Do ato de amar

Tantas saudades,
(Assim no plural)
Habitam cada canto das
E(s)ntranhas memórias.

Tantas músicas, no plural,
Habitando saudades do que
Não me pertence mais.

Tantos passados,
Assados (plural)
No caminho dos pés,
Algumas vezes descalços,
Outras vezes vestidos.

Entre minha morada
E a desses outros,
Tem uma estrada de
Lembranças.
Embrulhadas com um laço!

Finalmente,
Todos esses outros,
Me Compõe
Numa melodia.

Cantamos! Cantadores.
Tecendo, sempre tecendo.

Há tanto (de)andas

Caíram os passos: mágica sinfonia
De caminhos criados.
Todos tem anéis. Mas,
Pouco os conservam nos dedos.
Tens, um pedaço da mulher que nunca seria
Sem teu cheiro.

De onde veio?
Canastra velha, cachoeira extensa.
Vem, mesmo que cansado, meus braços se abrem.
Cala caído de olhos, pés...
E bocas.
Promessa do reabraço:
Nunca
Cumprida.

Para onde vai?
Se não forem flores de charco,
O que colherá?
Músicas antigas?
Cantigas?
Vestido de noiva?

Ponto sem fim, paralela em desagrado da matemática:
Que cruzou em mim.

Quando eu ouço a sua voz

Sua voz eu ouço como uma vaga lembrança
Do dia em que caíste
Sem vestimentas.
Aos meus pé.

Pedindo.
Quem caiu?
Me dei conta de que meus joelhos
Colados ao chão.
Suplicantes e cheios d'água.
Choramingava:
Não vai.
Não fica.

Tu,
Olhando e cabendo nos olhos a
Distância
Partiu.
Criança,
Amargurada.

Minha nudez,
Criou forma,
Meus cabelos encurtaram,
Foram teus passo que sempre ressoaram,
Mistérios.

Canto,
Espaço,
Neutra,
Viva,
Sem doce-salgado.
Quantidades exorbitantes de surpresa.

O silencioso momento em que choveu

Já havia algum tempo que não chovia naquela cidade. Se muito ou pouco não se pode dizer precisamente. Não se pode dizer, já que o tempo não pode realmente ser contado. Quero dizer, eu poderia contar, 7 semanas sem uma gota de chuva e dizer logo em seguida: "Isso é muito". Mas o tempo, sábio e escorregadio, não sabe dizer-se em quantidades. Mas o que se sabe do tempo da vida, do cotidiano, tragédias, alegrias, surpresas, delicias e ruindades que estão contidos nesse tempo.
A secura do ar foi suficiente para secar os corações das plantas e fazer esquecer do verde frescor da umidade pela manha. Quem poderia medir melhor o tempo, que plantas e manhãs?
Um trabalhador da construção civil aceitou o desafio e resolveu medir o tempo, a sua teoria é que só se mede o tempo em que se vive, com consciência de se estar vivo. Para cada momento de vida, ele plantaria uma pequena árvore, sim uma árvore que de concreto ele estava cheio. Ao chegar no final da vida, já doente, esperando, a morte chegar, com paciência de sua cama, chamou o seu neto um menino alegre, de olhos bem grandes e pretos e pediu: "Menino, vai lá no quintal conta quantas árvores."
Voltando para o quarto do avô, encontrou sua mãe bloqueando a porta. Dizendo que ele não podia entrar. O menino disse que era importante, que o avô tinha lhe dado uma missão especial e que trazia agora o resultado de tal missão, não adiantou. Chorou, fez birra e por fim sentou-se ao lado da porta dizendo que só sairia dali quando o deixassem entrar e completar a sua missão.
A mãe vendo que a coisa era feia mesmo decidiu permitir. O menino saiu correndo quarto a dentro ansioso por completar sua missão, chegou bem perto do ouvido do moribundo e disse 107 árvores.
O homem que já não sabia se estava deste lado ou do outro, sorriu e disse esse menino é o tempo da minha vida 107 árvores. Naquela noite o velhinho das árvores acordou com a garganta ardendo, aquela seca de 7 semanas deixava  todos sedentos e irritados. Ouvira dizer que choveria aquela semana.

Ela estava ansiosa, sabia que a chuva estava vindo sentia seu corpo vibrando com a umidade que começa a se acumular no ar.  Chegou em casa mais cedo. Jantou e ficou esperando a chuva. O vento vinha forte o céu de esforçava para acumular as nuvens; e por um momento ela acho que não seria possível. Sentou-se na varando sentindo o vento e o cheiro de chuva;
Esperava! Havia uma tensão no ar, as crianças foram recolhidas da rua, as pessoas estava todas em casa, tudo que se podia ouvir era o vento e uma portinha de lata batendo por causa do vento. Não muito tempo depois o primeiro pingo, a primeira gotinha lha atingiu o braço dela e como se fosse aquela gota sentiu a felicidade do tamanho do mundo, colocou-se a dançar. E durante a dança foi tirando a roupa, se despindo. As gotas esparças começaram a engrossar. Nesse momento o silêncio fez-se mortal. Era pura água, pura dança, puro trovão.

E no momento da dança chuva, o silêncio foi tanto e tão profundo que ninguém ouviu as ultimas palavras do velho moribundo, ele dizia baixinho: "107, o que isso significava mesmo?" 

Resultados parciais

Minha angustia tem o tamanho e a extensão
Da seca amarga  que cheira a queimada todas as noites.
De todas as gargantas roucas e de todos os narizes
En(s)tu(ú)pidos.

Nessa cidade que se encendia constantemente.
Minha angustia tem o tamanho do calor que sentem meus gatos pretos.
O número de pelos existente no corpo do meu amado.
E é exatamente, como é o corpo humano, 70% água e 30% sede.

Minha angustia tem a crueldade de ser constante,
Intermitente e de andar de mãos dadas com a melancolia,
Em meu peito:
Metade tristeza, metade esperança.
E por isso absurdo completo.

E dessa casa corpo, trancafiada no mundo.
Iluminada amarelamente, com as luzes sempre elétricas.
De tantas, tantos se cansaram.
De tantos tantas coisas são ditas:
Sem inspiração.
Minha angustia é um eterno pôr-se em pé.
E a vida a dura batalha de viver de utopias incansáveis.


Tonturas

Teima que não, mas cambaleia.
De lá para cá, de cá para lá.
Boceja, faz cara de preocupação.
Inquietante esse cálido perecer.

Longínquas, gigantes miragens.
Pastagens.
Cambaleia, daqui para li. De li paraqui.

Canção.
Canta, canta.
Leva voz, a mão rabiscando.

Traz a meia lua.
Meio luar, para es(a)quecer.

Santas memórias.

Deixa minha mão,
Vai-te aos infernos.
Deixa-me com minha solidão,
E de noite, em memória
Do teu falo ereto,
Agradecerei.
Que as lágrimas caiam silenciosas.
Inocentes, ingenuas de tanto sal.
Desce as escadas do tempo,
Anjo decaído.

Deixa-me. Calada e surda de tantas palavras,
Tantas.
Floresta sem país,
Densa, dolorida.
Antiga, como as próprias memórias:
(Se)mentes.
Intruso.
Vai-te.

12\02\2011

After All

As mesmas mãos cheias de violência,
Faziam com que meus seios parecerem menores,
Nunca antes tanta devoção sexual por essa parte do meu corpo.
Hoje andas por ai, sempre na reserva de vista dos meus olhos.
Fugazmente.
Promessa de sobremesa,
Mulher de palavras inteiras e pela metade.
E tem dias que sou pura saudade da tua risada,
Do teu calor e do teu cheiro.
Tem dias que me dou essa esperança remota de
Te falar. E depois de tudo seguir em paz.

11/06

Prece de espera

Tua boca me fala de todos os segredos do mundo.
Mas eu não quero ouvi-los.
Quero tocá-los enquanto são ditos.
Nada me importa mais
Do que tua presença em carne
A beliscar minha solitária paz.
Tenho teus toques, teus mapas, teus cheiros
Urrando dentro de cada casca,
Cada pedaço de pele.
Que tempo cruel.
Como cruel, são tantas coisas do mundo.
Sou tua miragem,
Perdida em devaneios,
Suplicante.
Calmamente afagada em toscas lembranças.
Foste tu homem de mil livros e outras mil ideias que
Vieste a mim com as mãos abertas,
O peito em polvorosa
E teso.
Foram tuas promessas, que encontraram minhas
Esperanças. E teu corpo pequeno e firme que me acolheu
Com tudo incluso angustias, manias, medos,
Amores, felicidades e desesperos.
Com casa, gato, cama e horários.
E de toda espera, criaremos outros mil mundos,
Com mil segredos, com outros mil livros e
Tantas outras ideias.
E com tantos passos, caminharemos cada qual com seus
Olhos e pés, mas por perto.
Já que não fomos feito para distância.

Quando a gente dá para tecer canduras.

Nada. De novo?
Nada de novo?

Começa aqui tragédia cotidiana.
Vem aquela loucura febril,
De ser gente.
De gostar de gente,
De querer sentir o outro.

E a gente dá de tecer canduras.
Alimentando essa fé inabalável
Em outro mundo,
A gente vai lutando.
Pelejando para chegar no outro dia.
A boca se cala em silêncio.

Tão longo quanto parece longa uma vida humana.
Tão longo quanto é o longo os primórdios do tempo.
Besteira menino, não faz joça.
Cola os ouvidos no canto da sala e espera.
Espera lá vem, essa fé inabalável de todos os dias.
E não falha.
Os olhos se fecham numa pintura eterna.
Como eternos são os astros.
E você estrela cadente da memória.
Sempre sozinha.

O corpo se cansa.
Em vão adormece mais uma noite.
Vai menino, pega de uma vez.
Engole, deglute, recebe.

Do outro lado
Dinheiro, carreira, conformidade.
Aqui, utopias, lugares incomuns,
Sentimento de mundo drummondiano.

Ali há dois passos, um bom emprego,
Uma casa grande, um caro bonito...
Sentado bem perto de mim a minha velha companheira
Chama de indignação que esta de mão dadas com o
Impeto de sempre resistir.

Na margem oposta,
Esperam ansiosos, jocosos e
Com ar de vitória,
Aqueles que enchem a boca e dizem:
"Eu já fui jovem um dia."

Caminhando ao meu lado, alguns amigos
Que lutam para não atravessarem a ponte.
Alguns eu já perdi, alguns eu sei que ficarão
Sempre desse lado.

Desse lado, pés, passos, porteiras:
Poentes.

Aqui, se aconchegando em mim
Cada vez que chamo:
Luz para clarear.
Coragem para enfrentar.
E força para não desistir.
Vim para escrever um poema,
Porém, ele me escapou,
Recusando-se a ser no mundo.
Preferiu ficar onde sempre esteve.
Seja lá qual for o lugar onde nascem os poemas.

Pedacinhos de gentes

Tem pedacinho da gente espalhado por ai. Eu poderia enumerá-los. Dizer os nomes. Mas isso não mudaria essa sensação do tempo passando apressado. Levando gente, trazendo gente para perto e depois de tudo, no fim da festa, que gostaríamos que nunca acabasse, levando embora de novo! Porque é no meio dessa festa quando estamos exalando amor, é que percebemos o quanto gostáriamos de que essas pessoas estivessem sempre por perto, mesmo que quebrássemos o pau vez ou outra. E que por alguns dias a gente escolhessemos sair com outros amigos ou ficar sozinha em casa mesmo, "só pra dar um tempo" e o tempo passa. E quando um olho pisca mais lento, poeira na estrada. Não acho ruim, já comi poeira de amigos, já fiz amigos comerem poeira, faz parte da coisa toda. Mas a saudade fica! Sempre fica! Mesmo daqueles que foram amigos e não serão mais ou mesmo daqueles que achamos que eram amigos, mas não eram. Que importa? O tempo vivido com autenticidade fica. Disse Thoureau: "Aquilo que é feito uma vez, está feito para sempre." Ou seja, você aí remoendo o passado: desencana está feito num tempo que nós não temos mais acesso. Acabou! É finito! Tem sempre o segundo de agora, para recomeçar, daí estará feito para todo sempre. Cara pálida, não vai ficar com medo de viver! Não, não! Vai se lambuza, cai de boa bem no meio daquele bolo de chocolate que sua avó preparou para você de aniversário. É um privilégio não ser por assim dizer "Walking Dead". Vai menino, vai menina! Vai brincar de roda enquanto é tempo. A gente cai mesmo. Dá de boca no chão, arranca a tampa do dedão, rala o joelho, é deixado de lado, os dentes de leite caem, outras partes do corpo mais para frente também caem. O vigor diminui, a gente trepa menos, come mais... A gente cria manias e depois fica irritados com elas... Eu sei parece horrível! Para a vida! Para eu vou descer aqui mesmo! Já! Mas, sabe  de uma coisa, a gente encontra amigos, a gente encontra amores, a gente faz festa, fica bêbado, fuma um, a gente viaja e muda tanto por dentro, cria e destrói jardins! E tudo pode crescer e se expandir na mesma medida em que às vezes definha! E pode até ser que nada disso aconteça, que a vida seja diferente! Não importa, melhor que ficar pelos cantos, criando monstrinhos, alimentando mediocridades, consumindo até o cu do coelho de pascoa, pregando Jesus na cruz e fazendo esse monde de besteiras que muitas vezes nos dizem que é o correto. Em linha reta para o nada, para uma festa sem fim, só cheia de ressecas que no final nos absorverá sem que tenhamos tido o tempo ou a audácia de viver! Saí dessa velhinho! Vai para o mundo, que o mundo vem pra você. São tempo difíceis, ardilosos. Esqueça, estamos neles e como disse um sábio, muito amigo, que já passou várias noites comigo e vários dias: "Não nos é dado escolher o tempo em que vivemos, mas podemos escolher o que fazer com o tempo que nos é dado!"(1)

(1): Ganfalf no Senhor dos Anéis I, quando Frodo entra em desespero ao saber que o seu anel é o UM.

Doismarinheiros

É o mar, passando,
Em água salgada.
Assim não tem tristeza,
Só esse eterno devir, cheio de águas escorregadias,
Que descem das janelas do rosto.
Era quando com os olhos
Bastos, capinados, encolhidos em rebeldias
O silêncio ocupava cada terra selvagem ou civilizada do pensamento.

Como seguir os dias?
Se olhando os passos repetidamente cotidianos,
Não há um caminho diferente?

Ir ao mar?
O mar tem sempre um caminho diferente
Para o mesmo lugar.

Tarde com chuva

Repetindo para si mesmo enquanto mexe o doce na panela:

- Nada como um bom samba pra cozinhar abobora com açúcar e canela, junto com todos os sabores internos, melhor ainda se for um dia de garoa.

Os gatos, malandros por natureza, enrolados
Ao pé da cama.
Foi assim que dias depois a memória lembrou-se daquele dia.

- Nada como um bom samba pra cozinhar abobora com açúcar e canela, junto com todos os sabores internos, melhor ainda se for um dia de garoa.

És Passos

Em paisagens tingidas,
Tecidas em olhos negros.
Numa escalada heroica,
Empertigada:
Nuvem Heroína de fins de semana e
Sabedora da estupidez humana.
São os muros cercando um jardim que ausente a brisa,
Esperança, morre.
Lenta: minuciusamente dolorido.

E se riem portas e janelas,
Se riem!
Em irônica e sagaz felicidade.

Quando, não aguentas é preciso,
Em nome da Sobrevivência,
Que os mistérios sejam os
Olhos dos outros.

Lonjuras

Uma criança observando uma pessoa na rua pergunta ao pai:
- Pai o que ela tem?
- Ela sofre.
E sem tirar os olhos dela:
- Sofre de que?
- De muitas coisas minha filha.
E pensando um pouco continuou:
- Primeiro sofria de passos longos e suas pernas ficaram doloridas de tanto passo em busca, então desistiu e seu sofrimento passou a ser distâncias, tantos lugares para ir nenhum para ficar, tantas coisas para resolver e nenhum que lhe fosse própria, tanto trabalho sem que ela entende-se para que ou para quem. Por fim, foi acometida de um mal súbito. Passou a sofrer de lonjuras e tudo secou por dentro, por fora e a aridez  tomou conta, tornou-se assim quieta, sempre alerta, sempre apercebida dos espaços intransponíveis do mundo. Ela minha filha sofre de lonjuras. 
A menina, tão menina, não compreendeu muito bem o que aquilo podia significar e por uns instantes esqueceu-se de ser criança e olhou para aquele ser e sentiu as lonjuras. Antes de que alguém pudesse reagir ela abraçou as lonjuras e aquela pessoa tão infeliz e até hoje esta na lembrança o momento em que as lonjuras estancaram e um raio de sol entrou para dentro de todo torpor e reviveu por um instante a sua humanidade.
Eu te amo tanto e tão sem medida,
Que é traiçoeira a estrada que me
Leva a ti.

Eu te sinto tanto, medindo de longe tua estatura
Que sei que te aprisionaram em meio
Ao caos.

Teus pés, minha loucura,
Sempre soubemos?
De olhos gatos e gestos longos.
Cachaça da boa!
Pajé? É negro ou é mulher?

Em seguida, de um lado para o outro,
Arreio, espora e estrada.

Realezas

Sombra de noite.
Direi: sombra de dia.

Deitado sobre as ínsitas asperezas
De ser gente num tempo como esse.
Caminhas dona aranha?
Com oito patas, sempre oito, sempre passando
De uma teia à outra sem remorso
Pelos aprisionados?

É saudade de casa.
De uma casa metafisica e traiçoeira.
Inexistente.

É um pouco de solidão,
Concreta para o dentro,
Mas sabe-se lá o que é no externo.

É o outro dali que repelimos,
Por ser igual,
E não gostarmos das igualezas,
Realezas e torres da onde apontamos.
Igual criança, desavisada das regras, com dedo indicador.

E rindo: escárnio? Cinismo?
Rindo, pró-seguimos.
Ela:
Caramelo doce, escondida.
Não dá!
Depois sair, sorrir.
Um dia?
Um dia uma casa gigante?
Um dia mídia na TV da sala?

Daí, depois de tudo, olhando as criança,
Nem tão crianças assim pensar:
Eu já fui jovem um dia.

We dreamt.

Os mesmos velhos sonhos.
E observando-os quando tiverem indo
Para a universidade:

They will be dreaming soon.

Ao pé da lareira aquela mesmérica sina,
Tomando forma e se ouvindo:

One day you will be exactly like me.

Tangerinas Doces

Acho que  o alaranjado,
Fica bem nas coisas vivas e
Por determinação biológica laranjas.

O incrível é que o laranja é copiavél em pigmentos
Muito facilmente. Mas laranja mesmo só se forem,
Laranjas, carpas, tangerinas, uvais,
Flores variadas...

A espreita

Pesadelos na tarde ensolarada vem e vão.
Os passos cegos seguindo. A bengala tec, tec, tec, etecetera.
Os ouvidos são sons, passos, pessoas, carros, cachorros...

Uma matilha vem em minha direção
São seis ou sete.
Comandados por um preto, barriga amarela,
Macho, latindo...
Encara-me latindo,
Eu continuo meu passo leve mente apressado.
Ele vem até os outros os cerca e latindo os faz descer
Um pouco na calçada protegendo-os de mim.
Seus dentes nunca quiseram me pegar.

E do seu comando asfaltico e retumbante surgem mais
Dois, grandes, maiores que ele,
Indo ao seu encontro para serem liderados.

De olhos fechados, escondidos pelo óculos escuros
Completamente desprovidos da visão,
Os pés prosseguem.
Atordoados.

Tristes aqueles que sofrem

As sobras de comida no tapete
São de jantares passados:
Não realizados.

Foi-se o tempo das coisas boas
Dizia minha avó olhando aflita o mundo dela mudar:
Não chover em setembro,
Fazer frio em janeiro,
Chover demais em julho,
Sexo sem casamento
E por incrível que pareça dar beijo na boca.
Tudo vem cedo ou tarde, tudo vem.
Feito trovão depois do relâmpago,
E sede depois do sol.

Intervalo externo um dia e uma noite.
Sucessivos.