O silencioso momento em que choveu

Já havia algum tempo que não chovia naquela cidade. Se muito ou pouco não se pode dizer precisamente. Não se pode dizer, já que o tempo não pode realmente ser contado. Quero dizer, eu poderia contar, 7 semanas sem uma gota de chuva e dizer logo em seguida: "Isso é muito". Mas o tempo, sábio e escorregadio, não sabe dizer-se em quantidades. Mas o que se sabe do tempo da vida, do cotidiano, tragédias, alegrias, surpresas, delicias e ruindades que estão contidos nesse tempo.
A secura do ar foi suficiente para secar os corações das plantas e fazer esquecer do verde frescor da umidade pela manha. Quem poderia medir melhor o tempo, que plantas e manhãs?
Um trabalhador da construção civil aceitou o desafio e resolveu medir o tempo, a sua teoria é que só se mede o tempo em que se vive, com consciência de se estar vivo. Para cada momento de vida, ele plantaria uma pequena árvore, sim uma árvore que de concreto ele estava cheio. Ao chegar no final da vida, já doente, esperando, a morte chegar, com paciência de sua cama, chamou o seu neto um menino alegre, de olhos bem grandes e pretos e pediu: "Menino, vai lá no quintal conta quantas árvores."
Voltando para o quarto do avô, encontrou sua mãe bloqueando a porta. Dizendo que ele não podia entrar. O menino disse que era importante, que o avô tinha lhe dado uma missão especial e que trazia agora o resultado de tal missão, não adiantou. Chorou, fez birra e por fim sentou-se ao lado da porta dizendo que só sairia dali quando o deixassem entrar e completar a sua missão.
A mãe vendo que a coisa era feia mesmo decidiu permitir. O menino saiu correndo quarto a dentro ansioso por completar sua missão, chegou bem perto do ouvido do moribundo e disse 107 árvores.
O homem que já não sabia se estava deste lado ou do outro, sorriu e disse esse menino é o tempo da minha vida 107 árvores. Naquela noite o velhinho das árvores acordou com a garganta ardendo, aquela seca de 7 semanas deixava  todos sedentos e irritados. Ouvira dizer que choveria aquela semana.

Ela estava ansiosa, sabia que a chuva estava vindo sentia seu corpo vibrando com a umidade que começa a se acumular no ar.  Chegou em casa mais cedo. Jantou e ficou esperando a chuva. O vento vinha forte o céu de esforçava para acumular as nuvens; e por um momento ela acho que não seria possível. Sentou-se na varando sentindo o vento e o cheiro de chuva;
Esperava! Havia uma tensão no ar, as crianças foram recolhidas da rua, as pessoas estava todas em casa, tudo que se podia ouvir era o vento e uma portinha de lata batendo por causa do vento. Não muito tempo depois o primeiro pingo, a primeira gotinha lha atingiu o braço dela e como se fosse aquela gota sentiu a felicidade do tamanho do mundo, colocou-se a dançar. E durante a dança foi tirando a roupa, se despindo. As gotas esparças começaram a engrossar. Nesse momento o silêncio fez-se mortal. Era pura água, pura dança, puro trovão.

E no momento da dança chuva, o silêncio foi tanto e tão profundo que ninguém ouviu as ultimas palavras do velho moribundo, ele dizia baixinho: "107, o que isso significava mesmo?" 

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