Olhei nos olhos de uma criança esses dias, coisa perigosa a se fazer. As criança ainda carregam olhos sem dissimulação desse mundo de destroços para muitos. Ela estava tentando vender panos de prato para os ocupantes das mesas de um bar, um bar em que a conta não vai dar menos que cem reais.
Primeiro, olhei os gesto pequenos, envergonhados, atordoados, era uma menina, seu rosto estava sujo e os cabelos desgranhados. Depois, olhei o saco cheio de panos de prato e juro que quis abaixar a cabeça e fechar os olhos. Mas, como posso me acovardar diante de tamanha crueldade. Então, olhei os olhos e sorri. Um sorriso triste, talvez não devesse ter sorrido, parece-me agora inoportuno e desumano. Deveria ter abraço seu pequeno corpo. Por fim acho que me acovardei, fazendo daquele sorriso uma pequena catarse, sim! agora fiz minha parte, que parte? Que tristeza. E sensação de impotência perante esse mundo. E assim aqui escrevendo essa tristeza, penso em quão estúpida ela pode ser, se eu me sinto impotente imagina aquela criança, o que ela sente e apaga...
Daí ouvi uma daquelas excelentes considerações do senso comum, de um ocupante da mesa, vestido com um terno barato, um sapato caro e carregando um celular de ultima geração: o pai que faz isso deveria ser preso! BRILHANTE! Pobreza nesse país é mesmo caso de polícia. E nós? Aqui com nossas vida pequeno burguesas. Da vontade de sentar na mesa e dizer: olha meu filho, é cruel, esse pai realmente deveria ser educado, visto como uma pessoas, deveria não reproduzis o ciclo de crueldades, mas me diz qual é a condição objetiva que essa criatura tem? Você já não teve o que comer um dia? Você foi sistematicamente humilhado durante a vida toda em razão da sua classe ou cor ou vestimentas?.... Um discurso, mas só um discurso. É fácil sentir esse tipo de revolta, devotar a ira para aquele homem medíocre como somos em geral. É fácil também fechar os olhos para essa menina. E outras meninas e outros meninos e outros homens e outras mulheres... É fácil! Mas olhá-los e fazer da tristeza, desse sentimento de mundo drumondiano, uma espécie de catarse também é fácil. Olha, quando digo, não quero desrespeitar a subjetividade de ninguém, sinceramente, as vezes mesmo com esse sentimento não somo aptos a fazer alguma coisa, mudar alguma coisa no mundo externo. Tenho usado essa metáfora repetidamente em conversas com amigos e agora escrevo. Tomei o comprimido vermelho, quem me dera ter tomado o azul... Agora é isso, essa sensação, esse eterno e irremediável doer, diante da racionalidade moderna, diante do mundo, diante de mim mesma, diante de tantos inumeráveis absurdos congénitos, que nasceram com essa merda de concepção de Estado, Economia, Sociedade, Subjetividade...Blá blá blá...
E as vezes, muitas vezes, dá uma vontade de desaparecer, uma vontade de desligar por 5 minutos, 5 míseros minutos da consciência de sabe vivo nesse mundo. E as vezes, várias vezes, dá uma angústia sem tamanho, imaginar o futuro, fazer planos sejam quais forem. E as vezes, dá vontade de largar tudo e se jogar na vida sem nada. Sem todas essas coisas, objetos, sem nada...
Mas daí, eu penso qual o meu direito real de fazer isso? E o sentimento de responsabilidade para com o mundo me vem e penso que só tenho o direito real de ser feliz com as minhas dores, veja bem, como se esconder atrás delas, se vemos e sentimos somos responsavéis, não mudaremos o mundo, mas podemos ao menos tentar e sem grandes planos mirabolantes ou gigantescos, um passo de cada vez no cotidiano. Sem virar as costas... Aceita os pesares, como diz uma sábia amiga, cada um tem a caçamba do caminhão do tamanho que aguenta. Desabafo. Porque acabei de me lembrar da menina, quando via um vídeo de violência policial, social....
Se meus pés são esses, aceito-os e caminho com eles e aconselho que façam o mesmo, os que tomaram a pílula vermelha. Ser feliz é um dom raro e eu garanto queridas e queridos ele vem junto na pílula com as tormentas e olhos doidos e doídos...
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