Esse paladar reconhece os ventos
Que levam longe.
Com o gosto de paisagens recém
Descobertas dentro do peito.
E explode em sabores
As brisas que transformam a
Mulher dentro das asas.
Solto as feras e firo com um pouco
Da solidão que me acompanha
Por gosto.
Espero que o tempo
Se contenha
Na barra da minha saia,
E saia pela porta dos fundos.
Parto, pois sou boa na partida
E me despedaço espalhando
No vento a minha sede.
Minhas intenções obscuras
Se esclarecem.
E a visão de fora
Se turva em desafios.
Propositalmente me calo
Na eloqüência da minha despedida.
Mira A. Diniz
17/07/09

Estranho ser, que passa por dentro de mim
Ontem, sua voz ecoou como se
Eu fosse uma caverna vazia e profunda.
Eu corri de você.
Dos seus gritos vindos de minhas
Próprias entranhas.
Sorri de escárnio
Por ainda estar tão vivo,
Ou por ousar nascer.
Fecho os olhos e ouço a
Mudança pronunciada,
Uma força que vem de dentro e destrói
Quem eu costumava ser.
É hora do chá
De colocar à mesa
Tudo que se pode ver.
Não, não vou voltar.
Nem para te contar sobre ontem à noite.
Eu ainda não fiz meu bolo
De aniversario, nem cantei vitórias
Sórdidas sobre a vida.
Não vou voltar.

Mas os seus passos vão continuar
Ecoando na memória como algo inevitável.
Indizível,
Como um daqueles segredos de mulher que
São levados.

Eu sei meu bem...
Nunca nada foi de propósito.
Mira A. Diniz
10/06/08

As flores secas sobre a mesa
Vazio
Um eco.
As flores desabrochando sobre a terra
Fertilidade
Um acontecimento.
Mira A. Diniz
02/01/08
Quero bater no tempo e com
Todas as minhas forças apáticas.
Me livrando dele.
E aí
Vou ao teu encontro na estação
E nos lançamos pela vida a fora
Sem pudor.
Podemos viver de vento quando subirmos
Montanhas ou de maresia
Quando formos ao mar.
No caminho deixaremos poesias e
Plantaremos árvores para dar sombra aos que vierem.
Quando tiver medo, te deixo no escuro.
Para que os enfrente sozinho.
Quando tiver fome, dou-te do meu suor.
E se por acaso quiseres carne.
Coma a minha que de bom grado servirá a você como
Escudo dos abismos da solidão.
Mira A. Diniz
16/04/09

Conversas

Convulsão de palavras
Escritas na moda antiga.
Te escrevo cartas mentais
E você as devolve.
Mira A. Diniz
13/07/09
Foi no primeiro
Segundo
Surgiu
Sem forma
Esfumaçada
Invasora de mentes
Inconveniente.
Foi no segundo
Instante
Que se de
Desnudou
Tornando-se
Translucida
Trêmula
Ganhando cores
Deslizando os
Dedos no
Rosto dela.
Foi no terceiro
Segundo
Que sua voz ecou
Na escada.
E se decobriram
Estáticos
Separados pela
Escolha Que nunca chegaram
A fazer.
Um solitário
Cavalo corre
Pelo campo
Nem se da conta
Que está preso em sua
Própria Liberdade.
Mira A. Diniz
09/02/08
Minha vida é feita de anéis
Daqueles que ganhei madrugada a dentro
E dos que perdi por medo ou descuido.
Há aqueles que me calaram em despedidas e foram promessas.
E os que foram adeus.
Um que consumido queimou
E que de amores fugiu.
Nem sempre amamos,
A paixão nos move.
Que seja assim, com os meus pactos secretos e sublimes.
Estou nua e me visto apenas
Com eles.
Gravados na memória ou em pedra bruta
Persistimos ao tempo.
Eu e minhas jóias de esperança
E desejo.
Mira A. Diniz
28/04/09
Ando pela cidade de braços entreabertos
Não temo exatamente por outros ou por mim.
Temo pelo medo.
Querendo ser um dia caça
Outro caçadora
Sigo
Muda.
Em verdade, nas mãos me cabem
Um pouco de você e muito de mim.
Mira A. Diniz
10/05/09

Último Ato


É como se a vida não pudesse
Mais jogar suas cartas.
Eu te dei, meu bem, todas as
Possibilidades de viver o
Escuro e o claro dos
Meus desejos.
Que seja. Vamos adiante
Perante o adeus que se
Assemelha ao fato-ato
Do meu querer sobre você.
Pois bem, de mãos dadas
Ou de flores atadas
Com desafios lançados
Passos calados e
Noites dormidas, vamos
Adiante.
Mais um pé no breu,
Meu pequeno temor cresce e
Se esconde.
Estamos ali e na verdade não sei o
Que te dizer.
Então me engulo em palavras e
Espero pelo tombo que
Antecede sua vinda.
Eloquentemente calada
Com gestos obscuros na noite
Deito-me quieta ao teu lado.
Afinal o que mais podemos
Fazer?
Mira A. Diniz
13/07/09