Apelo a Deus (sobre o absurdo)

(Apelo feito a imagem de Deus, um homem sentado no céu, como nos ensinam os cristãos)

Deus me dê essa fé indiscutível na vida.
Essa capacidade de amar, esse frio que é
Quente por dentro.
Deus perdoe essa menina pequena
Nos gestos e nas paradas.
Perdoe esse mal incerto de
Sempre perceber-se como
Vivente, de doer com o mundo.
Perdoe esses amores profundos,
Esses vícios contínuos, essa fala
Calada na noite.
Deus! Faça-me segura de minhas
Mãos e barriga.
Traga-me os pedaços dos dias com cores
Tantas que me aparvalhem em debilidades.
Como se fosse feita do inexcusável, imperdoavelmente
Lúcida da própria solidão.

Faço, o apelo perante você,
Pois, sei que seu silêncio é inevitavél,
E por dentro me grito, para não me ouvir.

26/07/2010

(Poema encontrado em  papéis já esquecidos)

Mel, ancas e colírio

Deliro. Casta e entumecida.
Meio de céu.

De dia sou eu.
De noite, mazelas, amores.

Com luz me encanto,
Penumbra ponho-me nua.
Escuridão adormeço segurando teu corpo,
Colado ao meu.

Aspirando,
Respirando,
Deglutindo-me.

Em memória

Em sua memória me calo,
Não digo que sim nem que não.

Tendo, uma vez calado,
Gostei do silêncio.
Acostumei-me a ele.

Se declaro, me acabo,
Caída em tuas artimanhas.

Incerta. Pura, clareza de que desde que me
Veio, acabou comigo.

Delírio de inverno

Sinto que me diz:

Sou de rompantes.
Chamem homens e mulheres,
Toquem tambores.

Ventania e cavalgada.
Sou em mim,
Selvagem
Aprisionada.

Farto-me a largas garfadas.
Nada é pequeno se não for infino
Tudo que é grande é enorme.

Tendo me apaixonado pela vida
Esvaio-me em suas possibilidades.
E me sobro, aqui, enclausurada de
Doer e de deliciar.


(Sobre a moça que mora comigo)
Sou de explosões.
Estou implodindo.
Explodi.

Miríades

Mucama de olhos gastos,
Invencível, vem me levar para o mar.
Razoável que me leves se te peço, sem ordenar
Invisível de mim mesma.
Água insolúvel de minhas notas mentais. O
Desdenho em que me olhas
Encostada na minha mão, tua mão sabe que eu não
Sei o caminho para chegar ao mar ou voltar a montanha.

Se esvai

Se vais por essas paragens,
Não me digas.
Não me chames.
Se vai por essas paragens não me olhe
E se esvais de uma vez.

Convite

Não me convide despretensiosamente para te ver na meia luz
Dos seus dias cálidos e tristes.
Fora um pouco empírico,
Um pouco racional,
Metade de um copo, cheio de água
É meu, a outra não respondo.
Não me pergunte, pessoa,
Se pode deitar-se em minha cama,
Síntese poderosa.

Vamos lá, não seja de sínteses (sintético).
Ainda te conto, onde é que está a memória.
Te faço convites e o mundo me responde, sabendo que
Tua boca me desmente em mim.

Cavernas

Sou de cavernas,
Se queres cave comigo.

Você não obriga um gato a ficar no seu colo

Oberva-me ali, você de pele a mostra e olhos... ah os olhos são os olhos.
Boca a deriva, deixada aqui ao alcance das palavras
Saborosas aos ouvidos,
Encabuladas no caminho que vão por dentro.
Reflito-me, refugiada de guerras e com delicias a mão,
Vaidosa do tempo em que me encontro,
Ouço-te,
Toda ouvido e sensações abissais,
E quando cala, gosto de te observar me observando.

Cuidado

Sou de pactos,
Se queres pactua comigo.

Em cruz ilhada

E se todos as imagens fossem mais que
Nova poeira no horizonte, você poderia
Crer no que te digo agora? Nua, de olhos e boca entreabertos,
Ruidosa. Vaidade pura escorrendo como o tempo:
Ultimato. Você vem? Assim, sem que eu diga nada? Vem ser meu
Zênite? O ponto alto da minha estrada? Vem me
Insultar, me dizer bobagens, pura astúcia
Liquida mesmo, me transformando em transpirações
Habituais do seu desejo?
Ah, cale-se, mude-se, vai-se com o diabo, ou seduz-me
Derrotada em seus poros, pelos e gozo. E se resisto
Agarra-me, obriga-me, faz-me dócil e adormece comigo.

Dez Milhões

Claro. Se me olho no espelho por cada passo?
Os tenho por toda casa!
E nunca deixo de usá-los para
Medir o tamanho dos passos e dos
Precipicios.

Negro. Nego. Não sou de amores vãos.
Mas, não espero que o tempo passe para
Descobrir que os relógios nos mudam
Por fora e por dentro.

Penumbra. Não sou das margens em mim.
Gosto das minhas correntezas.
Do olho do furacão.
E do eterno desfazer-me.

Digo pois, sem promessas pequenas.
Sem promessas grandes.
Quando abro a porta. Não trouxe nem a chave para trancar
Você para dentro e nem para fora.