Quando a gente dá para tecer canduras.

Nada. De novo?
Nada de novo?

Começa aqui tragédia cotidiana.
Vem aquela loucura febril,
De ser gente.
De gostar de gente,
De querer sentir o outro.

E a gente dá de tecer canduras.
Alimentando essa fé inabalável
Em outro mundo,
A gente vai lutando.
Pelejando para chegar no outro dia.
A boca se cala em silêncio.

Tão longo quanto parece longa uma vida humana.
Tão longo quanto é o longo os primórdios do tempo.
Besteira menino, não faz joça.
Cola os ouvidos no canto da sala e espera.
Espera lá vem, essa fé inabalável de todos os dias.
E não falha.
Os olhos se fecham numa pintura eterna.
Como eternos são os astros.
E você estrela cadente da memória.
Sempre sozinha.

O corpo se cansa.
Em vão adormece mais uma noite.
Vai menino, pega de uma vez.
Engole, deglute, recebe.

Do outro lado
Dinheiro, carreira, conformidade.
Aqui, utopias, lugares incomuns,
Sentimento de mundo drummondiano.

Ali há dois passos, um bom emprego,
Uma casa grande, um caro bonito...
Sentado bem perto de mim a minha velha companheira
Chama de indignação que esta de mão dadas com o
Impeto de sempre resistir.

Na margem oposta,
Esperam ansiosos, jocosos e
Com ar de vitória,
Aqueles que enchem a boca e dizem:
"Eu já fui jovem um dia."

Caminhando ao meu lado, alguns amigos
Que lutam para não atravessarem a ponte.
Alguns eu já perdi, alguns eu sei que ficarão
Sempre desse lado.

Desse lado, pés, passos, porteiras:
Poentes.

Aqui, se aconchegando em mim
Cada vez que chamo:
Luz para clarear.
Coragem para enfrentar.
E força para não desistir.
Vim para escrever um poema,
Porém, ele me escapou,
Recusando-se a ser no mundo.
Preferiu ficar onde sempre esteve.
Seja lá qual for o lugar onde nascem os poemas.