Uma outra prece ao tempo

Agradeço ao tempo.
Pelos caminhos cordialmente trazidos aos meus pés,
Talvez, seja enganoso pensar em suavidade:
Foi tua boca que me disse sussurrante que eras leve e inelutável.

Peço que seja curto em lonjuras,
Extenso em paragens,
Amável com os que tem estradas dentro de si.

Peço ao tempo que me seja sábio, que se consuma
Unido a mim, colado a minha pele e que
Ao final carregue consigo memórias dos dias
Em que estive em sua presença.

Cais: Manifesto Sobre as Horas

Tantos homens e mulheres
Calam-se na memória que nos açoita:
De ressentimentos e ressacas.

Nessas horas pressentimentos de cotidianos
Desabitados de lemes.
Nem faca sem gumes, nem histórias sem
Fim.

Há nesses dias portos sem fim.
Chegam abruptos e vão-se com
Melancolia facultada em devir.

Nos meses há espelhos narcísicos,
Levianamente passadiços.
Sempre ausentes de encantos tais.

Nos anos rostos (in)timidados
Repletos de temores assegurados
Em seguradora.
Estão salvos.
Condenados ao tempo diluído,
Diluível em idiossincrasias insolúveis.

Para aquele que me encontrou no samba

Observa os dias com calma,
A hora é descrente e os dias são enfadonhos.
Não há que desassossegar com isso.

Sempre o tempo,
Sempre tua mão sobre minhas peles,
Meus gostos, meus planos.

Há que se alimentar os gatos,
Que dar banhos neles,
Que dizer que são nossos e cuidar
Para que crescem felizes e saudáveis.

Sê veleiro de minhas entranhas,
Que sou água.
Que sou tua.
Preferi por vezes,
A tristeza dos teus olhos
Aos sorrisos do mundo.
Simplesmente porque
A tua tristeza tem o tamanho
Do meu coração.

03/02/06

(Poema muito antigo, mas bonitinho)

Dos passos e quedas

Somos todos sinuosos.
Nas costas os dias em que
Não podemos ser gente
Pesam.
Há nesses caminhos uma solidão
Consentida.
Consentimos, carregando as bagagens.