Pode água doce

Ainda nesse incontido ir e vir,
Nessas paragens de ser estrada,
Não digo que te amarei em todo instante, 
E sim que te amarei sempre com  lealdade.

Se pergunta quem sou e te desse respostas,
Ficaria no tempo continuamente pairando
A dúvida.

Sou passarinho,
Cavalo indomável,
Que se oferece voluntariosamente
Por amor.

Sou de ventanias e águas imensuráveis,
Sou de casa e hortas,
Sou de caminhos longos e batalhas invencíveis.
Sou tua.
Sou o mundo que cabe e o que esta fora, afeita aos
Traços de tuas mãos;
Aos teus desenhos que tenho pelo meu corpo.

Dias de estranhamento

Daí vem aquela velha história intragável.
Que não dá pra beber entre um copo e outro.
Não bebemos.
E por isso somos rejeitados.

Não me nomeie nessa condição.
Nunca.
Ela que me foi dada.
Porque meus inimigos precisam
De mártires.
Às vezes é difícil descrever a felicidade que sinto.
Mas eu tento.
Porque o amor implode em imagens
Intempestivo de tantos desejos, memórias e
Essa paz de se saber amando, amada.

Algumas vezes é quase impossivel dizer o que há
Por dentro.
Mas mesmo assim eu tento
Pelo meu nome
Na tua boca.
Eu tento.
Às vezes é ser só saudade.
Não sou eu que sinto saudades,
É ela que me sente.
Desmentindo na boca o fato de que às vezes
Ela existe e eu mero acessório em seu cabelo de seda.
E dá vontade de se encolher ou sair correndo mundo
Afora sem desvios para tua porta.
E com o coração na boca,
E os olhos perto dos teus
Deixar pra fora da tua casa a saudade,
Esperando-me para hora de partir
Não sei.
Não sei onde estaremos amanhã.
Por onde meus pés me levarão.
Ou para o que.
Só sei que agora eu sou só saudade.
Saudade liquida.
Saudade de voz.
E poderia morrer de saudade.
Sussurrando baixinho...
Depois da primeira vez que me
Deixou.
Esqueci-me de te esperar.
03/09/09

Nó na garganta

Tudo está desfeito.
Tem ao menos o
Vago direito de
Ir embora sem fazer
Alarde.
O relógio bate,
Já é tarde?
Ou ainda é cedo?
Tem dó do peito
Tem nó no antigo
Leito. As imagens
Pairam sobre os lençois
São miragens:
Das minhas iras
E das tuas promessas.
Mira A. Diniz
30/08/09

Marias Felizes

Há tanto tempo atrás, as Marias, pequenas, rosas e roxas, escolheram seu lugar de nascer. Gostavam mesmo de onde era úmido. Por isso quando chegou a sua vez de escolherem onde ia crescer, pensaram no ínicio em crescerem sobre as águas, mas era tão pequenas e tão frágeis que todo o resto que vivia na aguá ia destruí-las. Depois pensaram em grandes florestas sempre úmidas pela força dos tempos e das grandes árvores, mas tiveram receio das árvores e depois de tanto pensarem e de tanto fazerem a fila crescer, O Todo poderoso já meio sem paciência olhava pra elas com ar de reprovação.
Foi ai que alguém lá do fiz da fila gritou fiquem perto dos córregos de água, elas  já ancabuladas e meio sem jeito aceitaram a proposta. E por isso as Marias crescem melhor e com grande abundância perto das águas. O apelido sem vergonha veio muito depois, com o tempo as Marias que eram conversadeiras e muito agradáveis fizeram amizade com muitos outros seres da florestas e dos chãos e passaram a conseguir pequenos favores. Presentes. Gostando disso só ampliaram as amizades. Mas isso não quer dizer que não eram sinceras.
Olho espelho,
Dentro, encolhido.
Desolacão.
Criacão.
Olho, aberto e fechado.
Silêncio distraído de
Amor.

Faz tempo do peito.
Faz pouco tempo na vida.
Enigmas sem interesse em serem
Disfeitos.

Diz Estâncias?

Distâncias me apravalham.

Para todos que admiram as prisões

De dia é esse tumulto revolto por dentro.
De noite a cabeça no travesseiro sonha
Com tudo de novo mas fazendo misturas.

Hoje, pensei sobre a letra morta da lei
Que saia mais morta ainda da boca da quase viva
À minha frente.

Por um momento, um momento pequeno, achei que
Era uma maquina júridica que me falava.
E me dei conta da triste realidade do torpor
Pífio em que vivemos.

Como ele poderia não sair livre?
Está enquadrado numa das pinturas mortas descritas?
Artigo de luxo a prisão.
E me arvoro na tristeza de minha classe que come,
Viaja, compra livros...

Poderia sorrir pincelada das horas
Que passo sobre idéias.
Mas de fato só há certeza de que não há pés
Nem mãos. Só a imagem e som de passos e gestos,
E basta.

Olhos verdes

Se pudesse escreveria sempre
Sobre teus olhos que se abrem sobre minhas mãos
Amorosas.

Cantaria hinos e canções sobre
Tuas mãos delicadamente colocadas
Em meu corpo adornado de odores.

Diria quanto do tempo me pertence,
E quanto está ao seu lado.
Indefiniveis que são,
Calo-me sentindo o aprofundar de
Meus carinhos por você.

Poderia ter formas de me encontrar com você em
Sonhos delicados e cheios do teu calor.
Diria da vida e beijaria tuas mãos descobrindo meus caminhos
E teus caminhos.

Posso seguir te amando,
Invadindo-me
Deglutindo-te.
Amando-nos.

Canção de ninar

Cálida é a luz da vida que nos abarca.
Candeia que queima trazendo odores agradáveis.
Misterioso e indefinível passar dos tempos.
Ora resoluto por compasso,
Você é.
Vagando sem rumo pelas prateleiras
Que ainda estão sendo feitas.
Aquilo, encantadoramente no canto esquerdo
Dos olhos, é essa sede carmim que nos infesta por dentro.


Depois de um tempo a gente se interfere,
Desafinando aquela mesma velha toada.