Nascer do Sol

Pelo precipício da alvorada,
Visto de um espelho quebrado,
Há uma mão sobre minha pele.
Que mesmo não conhecendo as sensações
Viaja sem medo e pudor sobre mim.
Eu?
Viajo de volta.

Selvagem

Os sucos escorreram pelas peles
Dormentes.
Os sexos ficaram avermelhados de tanto
Furor.
As bocas esfoladas dos beijos e mais beijos
Em todos os pedaços expostos ou não de pele.
Cala as palavras, que prefiro os suspiros entrecortados
E os gemidos sussurrados.

Fartos!
Estamos fartos da geleira siberiana do sexo mecânico.
Preferível que seja selvagem,
Doido de êxtases delirantes
Palpitante.

Fartos!
Dos olhos por dentro serem de pedra bruta
Dos meios de sentir só um pouco, mas não tudo
De nunca permitir que sua pele entre por baixo da minha
E minha por baixo da sua.
Temos abismos que nos dizem que isso
É se prender, ter responsabilidades.
Estamos loucos para culpar o outro
Para deixar o outro nos desejando
Para aprisionar o outro em nós mesmo
Deixando que eles nos sejam

Fartos!
Da pequenez dos dias,
Da pequenez dos medos,
Da pequenez dos sonhos
Vestido sempre pra missa de domingo,
Sempre com os olhos baixos diante da autoridade
Dos sábios que habitam as Telecomunicações.

Fartos!
Do inumano.
Do desumano.
Da desumanidade.
Do não-humano.

Desejamos, sem nuca saber o que
Sem nunca Assumir o que.
Ou quando.

Queremos que possamos entrar
Dentro de nós mesmo, botar tudo abaixo
E reconstruir com o gosto de próprio sangue e dos próprios restos
A nossa selvageria.

Mãos

Olha ali moça!
Olha!
Olha?!?
As correntes levam e aprisonam.
Nos rios dos olhos não há escapatória,
Nem salvação.
Olha ali!
Escondida entre as folhas uma criança,
Seus olhos são selvagens.
Ela destila o ódio em suas entranhas pequenas.
Olha...

Não! Tenho medo.
De esquecer, de colocar fogo na minha cabeça
De queimar as lembranças e os miolos.
A madrugada me envolve com cheiro de peixe
Podre.
E mãos não esquentam.

Mas olha li moça.
E se tiver que ir por aquele caminho?
E se tiver que engolir seco e não chorar?
E se tiver que amar de novo?
Olha.

Já amo.
E o tempo que atiçou o fogo,
Há de um dia apagá-lo.