Amanhã

Amanhã teremos tempo, bons amigos,
Boa comida, bons amores e paz.
Amanhã seremos livres de nossos medos,
Das travas morais, dos olhares de reprovação.
Amanhã os dias serão de clima ameno,
Nem quentes, nem gelados, a chuva cairá na hora certa
E o sol não nos causará câncer.
Amanhã os gatos todos serão pardos, o amor, ali de cima,
Livre e nossos corpos beberão de outros com profundidade
E calma.
Amanhã não teremos propriedade privada, nem coletiva,
Viveremos sem propriedade e a medida de tudo será a
Afetividade.
Amanhã crianças crescerão sem escolas,
Mulheres andarão de madrugada nuas pelas ruas,
Homens estarão em um trabalho reconhecido.

O futuro como tempo real está preso,
O que nos tem em tempo concreto são
Os mesmos passos do sempre.
E os olhos das gentes estão baixos e cegos.

E por isso, amanhã, o dia nascerá pequeno, triste e
Encabulado de nascer.
O Amanhã gestado em gestos diários,
É abortado e vomitado dos corpos doentes,
E as mãos continuam tateando no escuro e cavando
Cavando Cavando Cavando...
E aqui e ali acham:
Peças do mosaico da vida.

Mira A. Diniz

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